quarta-feira, 24 de setembro de 2008

“Feliz aniversário, envelheço na cidade...”

Lembro-me do meu aniversário de quatro anos. Foi no salão de festas do prédio em que morava. Todos os meus amiguinhos, parentes, os pais de meus amiguinhos compareceram. Teve bexiga, bolo, cachorro-quente, brigadeiro... Foi um dia extraordinário numa época da minha vida em que coisas extraordinárias aconteciam com freqüência, e essas coisas extraordinárias tinham o poder de me transformar profundamente.

Ao longo dos anos, meus aniversários foram acontecendo, uns mais extraordinários, outros um pouco menos, mas me lembro de aguardá-los com muita ansiedade e felicidade, como um evento realmente importante em que coisas extraordinárias podiam e iriam acontecer.

Na adolescência, ainda morando em apartamento, os aniversários também eram extraordinários, pois carregavam, como um complemento festivo, o turbilhão e a intensidade de emoções que se misturavam.

Meus amigos, colegas e conhecidos de prédio, também faziam festas de aniversários, e estas também eram extraordinárias.

Durante todos os anos em que morei em prédio (a maior parte da minha infância e adolescência), minhas festas de aniversário ocorriam ora no salão de festas, ora no parquinho, ou ainda tinha aquelas improvisadas que aconteciam dentro do próprio apartamento. As festas de aniversário eram extraordinárias também por serem periódicas. Chegou um tempo em que as pessoas que moravam no prédio, e que apresentavam alguma amizade ou afinidade com outros moradores, decoravam a data de aniversário destes, e os aniversários passavam a ser aguardados coletivamente, uma vez que se sabia que pelo menos um bolinho com uma velinha aconteceria nestes momentos.

Eu me mudei do apartamento faz uns 5 anos. Não me lembro mais das datas daqueles aniversários extraordinários que eram comemorados com um monte de gente que morava no prédio. Lembro-me apenas das datas de aniversário de meus amigos mais íntimos e familiares mais próximos. A maioria das pessoas que conheço comemora o aniversário em um barzinho, ou casa noturna e esses aniversários são divertidos e são bacanas porque reencontro as pessoas de que gosto. Mas essas festas não são mais extraordinárias. Hoje, nem aguardo mais ansiosamente o meu aniversário. Já nem sei mais como comemorá-lo....
(A.S.M.R.)

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