Ela achou esquisitice um tanto infantil para os seus quase 30 anos. E o que ela mais abominava era mulheres de 30 infantilizadas. Resolveu utilizar o termo “reflexões” para nomear essas coisas que andavam povoando a sua insônia. Mas logo em seguida achou que “reflexões” também não estava bom... Parecia nome de livro dessa intelectualidade pós-moderna, que ela criticava tanto.
E Pensamentos, seria um termo mais adequado? Logo desistiu: Pensamentos lembravam a ela algo consolidado, fechado, concluído. Também não servia.
Mas esta preocupação tão grande com a linguagem e com o termo adotado não é coisa de pós-moderno, criticada outrora?
Foi aí que ela se sentiu ainda mais perdida: será que era uma pós-modena enrustida? Pior, crítica de si mesma? Pronto. Já havia um tema para a próxima sessão da terapia.
terça-feira, 11 de agosto de 2009
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
Clariciando
Ela acordou um tanto atormentada naquela manhã. Faltavam apenas um mês para chegar aos 29, o que sinalizava que os 30 estavam mais próximos do que gostaria.
Revisitava periodicamente sua trajetória, e estava claro que conquistara muito menos do que gostaria: construir uma família e possuir um emprego estável estava muito aquém do que planejara para os seus 30 anos, tão próximos...
Queria ampliar os seus horizontes, mas sem abrir mão daquilo que já havia conquistado. Ao mesmo tempo não conseguia sair do estado de inércia que dominava sua existência há alguns anos. Para ela as coisas aconteciam com ou sem o seu esforço pessoal. Por que, portanto, gastar o pouco de energia que sobrava para movimentar a vida?
Mas o mês de setembro sempre chegava para fazer com que questionasse a existência, os acertos, os erros, as conquistas e derrotas. Setembro sempre mostrava o lado mais obscuro da vida e deixava sua visão turva... nublada.... atormentada...., e já era agosto.
Mais chuvoso do que o habitual, mas triste do que de costume, mais questionador do que antes. Era o momento de recomeçar e replanejar o futuro. Era ali, agora, sem pestanejar.
Não sabia por onde começar, e resolveu reorganizar a casa para tornar o cotidiano mais leve, menos trabalhoso, menos ameaçador. Organizou gavetas, armários, separou as roupas velhas, jogou fora o que não podia ser re-utilizado: a coqueluche dos ecos de plantão.
Precisava cuidar melhor do orgânico que protegia seus questionamentos e resolveu utilizar aquele plano de saúde que lhe custava tanto no final do mês: marcou consulta em todas as especialidades que estavam no catálogo do convênio e prometeu que não faltaria a nenhuma, mesmo que a desculpa fosse boa.
Também queria colocar sua cabeça em ordem, e há algum tempo freqüentava uma clínica esquisita, em um lugar esquisito, para falar sobre as esquisitices que passavam pela sua cabeça.
Mas, as grandes mudanças ainda estavam por vir... e suas esquisitices só aumentavam: queria agora expor todas essas maluquices para, talvez, entender-se melhor.
Revisitava periodicamente sua trajetória, e estava claro que conquistara muito menos do que gostaria: construir uma família e possuir um emprego estável estava muito aquém do que planejara para os seus 30 anos, tão próximos...
Queria ampliar os seus horizontes, mas sem abrir mão daquilo que já havia conquistado. Ao mesmo tempo não conseguia sair do estado de inércia que dominava sua existência há alguns anos. Para ela as coisas aconteciam com ou sem o seu esforço pessoal. Por que, portanto, gastar o pouco de energia que sobrava para movimentar a vida?
Mas o mês de setembro sempre chegava para fazer com que questionasse a existência, os acertos, os erros, as conquistas e derrotas. Setembro sempre mostrava o lado mais obscuro da vida e deixava sua visão turva... nublada.... atormentada...., e já era agosto.
Mais chuvoso do que o habitual, mas triste do que de costume, mais questionador do que antes. Era o momento de recomeçar e replanejar o futuro. Era ali, agora, sem pestanejar.
Não sabia por onde começar, e resolveu reorganizar a casa para tornar o cotidiano mais leve, menos trabalhoso, menos ameaçador. Organizou gavetas, armários, separou as roupas velhas, jogou fora o que não podia ser re-utilizado: a coqueluche dos ecos de plantão.
Precisava cuidar melhor do orgânico que protegia seus questionamentos e resolveu utilizar aquele plano de saúde que lhe custava tanto no final do mês: marcou consulta em todas as especialidades que estavam no catálogo do convênio e prometeu que não faltaria a nenhuma, mesmo que a desculpa fosse boa.
Também queria colocar sua cabeça em ordem, e há algum tempo freqüentava uma clínica esquisita, em um lugar esquisito, para falar sobre as esquisitices que passavam pela sua cabeça.
Mas, as grandes mudanças ainda estavam por vir... e suas esquisitices só aumentavam: queria agora expor todas essas maluquices para, talvez, entender-se melhor.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Mudei as cores!!!!
Olá, depois de muito tempo sem escrever, cheguei desconfigurando o blog.....
Na verdade, nem foi uma mudança drástica.... Foi apenas uma mudança nas cores, só para ter o tom de mudança mesmo.
Depois de muito tempo sem escrever e de alguns puxões de orelha da Ana Maria, resolvi hoje retornar e, sentei aqui, no computador da escola onde trabalho para ensaiar algumas idéias. A mudança de cor foi a primeira delas. No entanto, depois de escrever as primeiras palavras, no meio de minha "retomada", tive de interromper essa atividade para receber um agronônomo da secretaria municipal do verde e do meio ambiente, o Ruy, que está nos ajudando com a horta que queremos construir aqui na escola. Na realidade ainda não temos nada construído. Temos três professores engajados e seis alunos empolgados pelo projeto. Mas agora, pelo menos, já temos alguns materiais e algumas orientações sobre como fazê-la.
Mas aí eu pergunto, o que eu queria ensaiar mesmo no blog?? O meu retorno? Alguma idéia mirabolante sobre o urbano e o cotidiano? Já não sei mais.... Desculpe-me.
Na verdade, nem foi uma mudança drástica.... Foi apenas uma mudança nas cores, só para ter o tom de mudança mesmo.
Depois de muito tempo sem escrever e de alguns puxões de orelha da Ana Maria, resolvi hoje retornar e, sentei aqui, no computador da escola onde trabalho para ensaiar algumas idéias. A mudança de cor foi a primeira delas. No entanto, depois de escrever as primeiras palavras, no meio de minha "retomada", tive de interromper essa atividade para receber um agronônomo da secretaria municipal do verde e do meio ambiente, o Ruy, que está nos ajudando com a horta que queremos construir aqui na escola. Na realidade ainda não temos nada construído. Temos três professores engajados e seis alunos empolgados pelo projeto. Mas agora, pelo menos, já temos alguns materiais e algumas orientações sobre como fazê-la.
Mas aí eu pergunto, o que eu queria ensaiar mesmo no blog?? O meu retorno? Alguma idéia mirabolante sobre o urbano e o cotidiano? Já não sei mais.... Desculpe-me.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
O último dia
Texto da aula do Júlio Groppa. O penúltimo que apresentei, sobre o fim do mundo. Atualmente, relendo Notícias do Planalto e compreendendo melhor o papel da imprensa na nossa história recente, acredito mais do que nunca que tudo transcorreria como descrito. Será?
Começa o clamor: Ana Sylvia, volte a escrever e engrandecer este espaço.
“Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, Me diz o que você faria”. Paulinho Moska.
Estava em todos os jornais! Ninguém conseguia desligar a televisão! Tudo era noticiário. Nada mais do que notícias. Eu me perguntava o quão infelizes eram aquelas pessoas que não paravam de trabalhar no provável último dia. Talvez porque só fosse provável. Talvez porque não tinham pra onde voltar. Tudo era talvez. O mais curioso era que havia uma grande massa de telespectadores esperando, ansiosamente, a notícia de sua morte. Os quinze minutos de fama, a que todos têm direito, estavam reservados para os quinze minutos finais. A cena contrariava todas as previsões de sociólogos, psicólogos, antropólogos e todos os logos que existem. Não, as pessoas não queriam saber de sexo, de drogas, de aventuras radicais.... Todos, esperavam pelo fim prostrados em um sofá, na frente da televisão, como espectadores de suas próprias histórias pessoais.
Começa o clamor: Ana Sylvia, volte a escrever e engrandecer este espaço.
“Meu amor, o que você faria se só te restasse um dia? Se o mundo fosse acabar, Me diz o que você faria”. Paulinho Moska.
Estava em todos os jornais! Ninguém conseguia desligar a televisão! Tudo era noticiário. Nada mais do que notícias. Eu me perguntava o quão infelizes eram aquelas pessoas que não paravam de trabalhar no provável último dia. Talvez porque só fosse provável. Talvez porque não tinham pra onde voltar. Tudo era talvez. O mais curioso era que havia uma grande massa de telespectadores esperando, ansiosamente, a notícia de sua morte. Os quinze minutos de fama, a que todos têm direito, estavam reservados para os quinze minutos finais. A cena contrariava todas as previsões de sociólogos, psicólogos, antropólogos e todos os logos que existem. Não, as pessoas não queriam saber de sexo, de drogas, de aventuras radicais.... Todos, esperavam pelo fim prostrados em um sofá, na frente da televisão, como espectadores de suas próprias histórias pessoais.
AMCG
quarta-feira, 25 de março de 2009
A Arte de Movimento
Nosso blog estava de férias e voltou mais vivo do que nunca.
Para a reinauguração estamos postando um texto que vamos apresentar para tentarmos uma bolsa em um curso de mímica. Espero que nos aprovem...
Ser
Somos educadoras,
E educadoras no sentido mais amplo da palavra...
Viemos ao mundo para ensinar
Mas, sobretudo, para aprender a ensinar.
Aprender a ensinar, entretanto, exige sentidos apurados,
conhecimentos diversos:
Ouvir com o ouvido de musicista:
o som dos automóveis,
dos helicópteros.
do murmurinho da multidão...
da cachoeira,
da onda,
das asas,
do silêncio,
do pensamento.
Ver com os olhos de um pintor:
as paredes rabiscadas, pintadas e rabiscadas,
o preto do piche,
a luz do sol encoberta pela sombra das construções,
a areia,
o pólen da primavera,
a sombra da folha.
Tocar o mundo e o outro como um pianista experiente
toca as teclas brancas e negras:
com força,
delicadeza,
precisão...
Falar no silêncio:
com as mãos,
os pés,
o ventre,
a íris,
e na mímica do silêncio re-escrever o mundo.
Aprender, ensinar,
Apreender, doar, receber, trocar, tocar
Às vezes sobram-nos palavras e nos faltam gestos
Gestos e movimentos
Que escapam do mundo das palavras, e talvez das idéias
Mas que tanto são percebidos pelos outros
Outros que são principalmente nossos alunos-professores,
Diria mais, diria que hoje em dia
O que mais de nós é apreendido
É o que menos temos de domínio
É o mundo do sub-objetivo que desenhamos
Com nossos corpos em movimento
Movimento que, quiçá, não é por nós entendido
Mas que por eles são sentidos.
Para a reinauguração estamos postando um texto que vamos apresentar para tentarmos uma bolsa em um curso de mímica. Espero que nos aprovem...
Ser
Somos educadoras,
E educadoras no sentido mais amplo da palavra...
Viemos ao mundo para ensinar
Mas, sobretudo, para aprender a ensinar.
Aprender a ensinar, entretanto, exige sentidos apurados,
conhecimentos diversos:
Ouvir com o ouvido de musicista:
o som dos automóveis,
dos helicópteros.
do murmurinho da multidão...
da cachoeira,
da onda,
das asas,
do silêncio,
do pensamento.
Ver com os olhos de um pintor:
as paredes rabiscadas, pintadas e rabiscadas,
o preto do piche,
a luz do sol encoberta pela sombra das construções,
a areia,
o pólen da primavera,
a sombra da folha.
Tocar o mundo e o outro como um pianista experiente
toca as teclas brancas e negras:
com força,
delicadeza,
precisão...
Falar no silêncio:
com as mãos,
os pés,
o ventre,
a íris,
e na mímica do silêncio re-escrever o mundo.
Aprender, ensinar,
Apreender, doar, receber, trocar, tocar
Às vezes sobram-nos palavras e nos faltam gestos
Gestos e movimentos
Que escapam do mundo das palavras, e talvez das idéias
Mas que tanto são percebidos pelos outros
Outros que são principalmente nossos alunos-professores,
Diria mais, diria que hoje em dia
O que mais de nós é apreendido
É o que menos temos de domínio
É o mundo do sub-objetivo que desenhamos
Com nossos corpos em movimento
Movimento que, quiçá, não é por nós entendido
Mas que por eles são sentidos.
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